sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

As quatro portas do Céu de Rosa Lobato Faria


Amanhã faz três anos que faleceu Rosa Lobato Faria, escritora, compositora e atriz.
Autora de livros infantis, poemas, contos, romances, peças de teatro, argumentos para televisão e de centenas de versos para canções de música ligeira. Atriz de televisão e cinema.
Rosa Lobato Faria nasceu a 20 de Abril de 1932. 


As quatro portas do Céu um livro de Rosa Lobato Faria,
ilustrado por Marta Albernaz
 editado pela ASA em 2010


Começa assim:

“O céu tem quatro portas.
A porta branca onde mora um velho chamado Inverno, a porta verde onde mora uma menina chamada Primavera, a porta amarela onde mora um rapaz chamado Verão e a porta dourada onde mora um homem chamado Outono.
O Inverno sai da sua porta branca com um saco cheio de maravilhas e verifica que a tinta da porta está um bocadinho esmurrada. Volta atrás a buscar uma trincha e conserta aquela pequena mancha. Depois segue, um bocado rabugento, e como não quer que o vejam, tira do saco uma embalagem de nevoeiro e espalha-o pelo caminho. Fica tudo cinzento e, embora esta não seja a sua cor preferida, sempre a acha melhor que os castanhos de mil e uma tonalidades que o Outono deixou atrás de si.
O Inverno, como já perceberam, não gosta de dar nas vistas, por isso sai no dia mais curto do ano, 21 de Dezembro, convencido de que ninguém dá por ele. E de facto, às vezes estamos tão entretidos a preparar o Natal que nem o sentimos.


Por onde passa, vai deixando a Natureza arrepiada.
(…) É por isso que o Inverno é um bocado resmungão. Não encontra quase ninguém pelo caminho a não ser árvores despidas e bichinhos assustados. Às vezes encontra pessoas, mas não dá para conversar, porque elas vão à pressa para casa, embrulhadas nos seus agasalhos, a soprar bafo quente para as pontas dos dedos.
Irritado com esta falta de atenção, o Inverno tira do saco uma chuva torrencial, de que todos fogem, mas que é uma das suas maravilhas porque vai alimentar os rios e preparar a terra para mais tarde desabrochar.


(…) Então o Inverno adormece. Fica tão sossegado que nem nota que a Primavera abriu devagarinho a porta verde e se vem aproximando no seu passinho de dança.


O Inverno tem, sempre teve, um grande fraquinho pela Primavera.


(…) O Verão vem com toda a calma (calma também quer dizer calor, por isso é duas vezes verdade). O amarelo é a sua cor preferida e a que melhor fica à sua pele morena.


(…) No dia 22 de Setembro, já com as uvas maduras na videira, o Verão vai andando tranquilo para a sua porta amarela, não sem antes cumprimentar o Outono, que sai nesse dia e é um senhor cheio de sensibilidade (dizem que é pintor), e o Verão sente por ele muita amizade e respeito.
O Outono preocupa-se primeiro com as vindimas, mas antes dá ainda umas pinceladas douradas nas uvas brancas, púrpura nas pretas, para que o vinho que delas nasça seja delicioso como um néctar.


Depois começa a ocupar-se do arvoredo onde exerce os seus dotes de artista.
         Baixa a temperatura, aos poucos, para que os meninos que já estão em aulas se não constipem. E depois o Outono, que além de pintor é um grande maestro, cria uma sinfonia de verdes escuros, castanhos, roxos, vermelhos e dourados na folhagem das árvores.”

(...)

FIM



Livro disponível na rede de Bibliotecas do concelho de Arganil

Sem comentários:

Enviar um comentário